Legado de resistência em Cecília Meireles e o equívoco de Laurence Hallewell

Cecília Meireles teve de ir à delegacia, debaixo de humilhações, para prestar esclarecimentos. Mas não foi “presa” pela tradução de um livro de Mark Twain

27/06/2021

Em Jornal Opção

Por Salomão Sousa

1. Busca de esclarecimentos

O encontro de uma informação errônea que aparece n’“O Livro no Brasil — Sua História” (Edusp, 1016 páginas, tradução de Maria da Penha Villalobos, Lolio Lourenço de Oliveira e Geraldo Gerson de Souza) desencadeou as pesquisas que resultaram na necessidade de elaboração deste trabalho. Ao informar os livros que foram queimados e apreendidos pelo Estado Novo, Laurence Hallewell diz que Cecília Meireles foi presa por ter traduzido “As Aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain.

Da busca de esclarecimentos para desfazer a incorreção da informação constante do livro de Hallewell emergiu uma Cecília Meireles atuante em defesa da Educação, sofrida em suas relações familiares e que deixou uma obra que ultrapassa os padrões originais do Modernismo, sem que isso seja devidamente ressaltado na vasta produção crítica e acadêmica sobre sua vida e sua obra. Trata-se de trabalhos que, na maioria, se repetem, às vezes sem profundidade ou método, com enfoque nos mesmos pontos. É preciso que um pesquisador encampe o trabalho de busca de informações complementares e de ordenamento do material em uma publicação que apresente a poeta de corpo inteiro.

[…]

Conforme vários estudos demonstram, Cecília Meireles contribuiu para o debate do modelo de Educação laica e universal adotado no País, ainda que para isso tenha travado resistência cautelosa com a ditadura de Getúlio Vargas. Ela deixou vasta obra jornalística e literária, o legado de sua atuação como educadora e o trabalho de interlocução da poesia brasileira com a portuguesa, israelense, indiana, entre outras territorialidades. Todas essas ações estão a exigir contextualização atualizada. Além, é claro, de urgência na recuperação e no ordenamento de sua correspondência e de construção de sua trajetória biográfica, que ponha em relevo o trabalho realizado por ela em diversas áreas e a vitória pessoal sobre os desastres que tão amiúde recaíram sobre sua vida, desde a chegada de sua mãe ao Brasil em data não identificada, originária da ilha de São Miguel, nos Açores.

Pode ser constatado que inexiste estudo biográfico que abarque de forma aprofundada toda a vida de Cecília Meireles e que são raras as informações sobre o seu cotidiano, sobre os estudos e as relações com a família e os amigos, sobretudo com a intelectualidade. Por exemplo: não foi possível localizar nenhuma menção sobre a relação dela com a obra de Jorge de Lima ou se foram amigos e/ou mesmo se mantiveram encontros informais, apesar de terem pertencido à revista Festa, do grupo de poetas modernistas alinhados à linha espiritualista, e de a palavra “inconsútil” aparecer no quarto poema do livro Solombra (1963). “Inconsútil” é uma palavra que ninguém sai dizendo por aí a torto e a direito sem que haja uma forte sugestão fixada no inconsciente. Em 1938, Jorge de Lima tinha publicado o livro A túnica inconsútil.

Leia o texto original na íntegra no jornal opção

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