Coleção Prismas aprofunda análise de obras de arte em acervos do Brasil

Coordenador da coleção lançada pela Edusp diz que cada livro aborda uma única criação artística de forma acessível a um amplo público

Em Edusp

Por Divulgação

Apresentar um estudo aprofundado, mas de forma acessível a um amplo público, sobre uma obra de arte específica que faça parte de acervos brasileiros é a proposta da coleção Prismas, que será lançada oficialmente em setembro pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp). O coordenador da coleção é o professor de história da arte na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Jorge Coli, que afirma que o leitor poderá se aproveitar da pedagogia que cada criação possui, além de conhecer e valorizar o patrimônio artístico brasileiro.
O lançamento oficial contará com os três primeiros volumes, que são, respectivamente: “Más Notícias, de Rodolfo Amoedo”, de Sonia Gomes Pereira; “O Escolar, de Vincent van Gogh”, de Felipe Martinez; “Sem Título, de Amilcar de Castro”, de Flávio Moura. Contudo, já está à disposição do público, no site da Edusp, o livro que inaugura a coleção, sobre a pintura de Amoedo.
Jorge Coli tem graduação em história da arte e arqueologia e mestrado em história da arte, ambos pela Université de Provence, na França, além de doutorado em filosofia pela USP. Ainda, é integrante da Associação Internacional de Críticos de Arte e colunista da “Folha de S.Paulo”.

Quais são os objetivos da coleção Prismas e o que o leitor pode esperar?
Jorge Coli: A coleção Prismas tem como principal propósito oferecer aos leitores uma perspectiva aprofundada sobre obras pertencentes às diversas coleções brasileiras, públicas ou privadas. Ela busca atingir vários objetivos essenciais, que visam proporcionar aos leitores uma experiência enriquecedora ao explorar o mundo da arte e da cultura. O primeiro objetivo é propiciar um estudo profundo e atento de uma única obra de arte. Ao selecionar uma obra específica, a coleção permite que os leitores mergulhem nas várias camadas de significado, no contexto histórico e nos elementos artísticos que compõem essa peça singular. Em segundo lugar, a coleção busca destacar as múltiplas abordagens que cada obra pode suscitar para a compreensão do leitor. Cada autor traz consigo uma bagagem única de conhecimento e experiências, e a coleção Prismas valoriza essa diversidade, convidando os leitores a explorar diferentes ângulos de interpretação. O terceiro ponto é que a abordagem é sensível à complexidade e individualidade de cada obra de arte. Evitando classificações simplistas, como a mera associação a movimentos ou estilos artísticos, a pedagogia da coleção Prismas reconhece que cada obra possui sua própria linguagem e seu propósito. Essa abordagem levará o leitor a se aprofundar na obra por meio de processos indutivos, explorando suas nuances e relações com a história, a iconografia, o significado semântico e os elementos formais. Em quarto lugar, a coleção encoraja os leitores a seguir uma abordagem que pressupõe uma “ética da obra”, ou seja, uma apreciação que respeite a singularidade da criação artística. Isso implica deixar-se guiar pelas próprias exigências e intenções da obra em vez de impor interpretações predefinidas. Dessa forma, os leitores são incentivados a desenvolver uma relação mais profunda com a arte. Por fim, também desempenha um papel na valorização e divulgação do rico patrimônio artístico presente nas coleções brasileiras. Ao explorar obras de arte que “vivem” no Brasil, a coleção Prismas promove a ampliação do apreço pela diversidade dos tesouros que estão entre nós.

Como é feita a escolha das obras de arte analisadas e dos especialistas em cada tema?
JC: O processo de escolha envolve vários elementos convergindo para a criação de uma série de livros que se destaquem pela singularidade de cada obra e pela qualidade dos especialistas envolvidos. O princípio fundamental da coleção é concentrar-se em uma única obra de arte em cada livro. Esse enfoque permite que os autores se aprofundem e explorem todas as dimensões e todos os detalhes da obra escolhida. Cada peça é tratada como um microcosmo de significados, contextos e formas artísticas. A seleção dos títulos e, por conseguinte, das obras é determinada pelo interesse e pela disponibilidade dos especialistas em contribuir com um texto aprofundado sobre a obra em questão. Cada especialista é escolhido com base em sua experiência, seu conhecimento e sua paixão pelo tema. Muitos desses especialistas têm dedicado anos de pesquisa a uma obra específica ou a um conjunto de obras relacionadas, garantindo uma análise de alta qualidade. E vários dos especialistas convidados já realizaram pesquisas acadêmicas abrangentes, como mestrados e teses, sobre as obras que estão sendo analisadas. Essa base sólida de pesquisa prévia garante que os textos sejam fundamentados em estudos anteriores e em uma compreensão profunda do contexto histórico, artístico e cultural. Ainda sobre a seleção de especialistas, ela abrange uma ampla gama de acadêmicos e pesquisadores, oriundos de instituições variadas. A coleção valoriza a diversidade de perspectivas e enfoques, permitindo que cada obra seja explorada segundo diferentes contextos teóricos e métodos. O objetivo central da coleção é proporcionar textos que sejam rigorosos e profundos em suas análises, mas também acessíveis a um público amplo e não especialista. Os estudiosos convidados são incentivados a apresentar suas pesquisas em uma linguagem clara e acessível, de modo a dirigir o conteúdo para todos os interessados em arte e cultura, e não apenas para um público acadêmico. As obras escolhidas têm relevância no contexto do patrimônio artístico e cultural existente no Brasil. A coleção visa destacar obras em diversos acervos, oferecendo e divulgando um estudo de qualidade sobre essas obras.

As obras analisadas em cada um dos livros da coleção pertencem a acervos de museus brasileiros. Qual o motivo dessa escolha?
JC: Seria preferível falar de acervos brasileiros em vez de unicamente de museus. Está claro: os museus serão predominantes na coleção Prismas, mas há obras relevantes em outras instituições. Portanto, a escolha de obras pertencentes a acervos brasileiros, abrangendo não apenas museus como também outras instituições culturais, é uma característica distintiva e fundamental. Essa abordagem surge da consciência de que grande parte do patrimônio artístico existente no Brasil permanece pouco estudada e muitas vezes obscurecida por uma compreensão superficial. A coleção busca preencher essa lacuna, trazendo à luz grandes obras que merecem uma análise aprofundada e uma atenção renovada. Ao focar acervos brasileiros, a coleção Prismas pretende colaborar para o conhecimento das obras que fazem parte do nosso patrimônio. Além disso, a escolha de obras de diferentes acervos não apenas enriquece o repertório das análises mas também ressalta a riqueza das coleções, por vezes ignorada pelo grande público. Essa escolha vem do fato de que esse patrimônio é pouco conhecido, ou conhecido de maneira superficial. Por exemplo, as obras de van Gogh do Museu de Arte de São Paulo (Masp) são muito relevantes para o patrimônio internacional, mas não haviam sido de fato estudadas antes dos trabalhos de Felipe Martinez, que refez toda a história de cada uma dessas telas e pôde nos oferecer um belo texto sobre “O Escolar”. Para os artistas brasileiros, como Rodolfo Amoedo e Amilcar de Castro, a necessidade de ter suas obras analisadas e compreendidas é também imperiosa, de maneira a escapar das generalidades em que, com frequência, elas se encontram confinadas. Esses estudos não apenas enriquecem nosso entendimento dessas obras como também contribuem para a valorização do patrimônio cultural brasileiro no cenário internacional. Assim, a escolha de se concentrar em acervos e coleções brasileiras é uma consequência do desejo da coleção Prismas de trazer à tona o potencial de aprendizado, descoberta e apreciação relacionado ao nosso patrimônio artístico. Ao fazê-lo, a coleção reafirma seu compromisso de ampliar o diálogo sobre arte, cultura e história, bem como de oferecer ao público a oportunidade de desvendar as maravilhas que se encontram em nosso próprio quintal cultural.

De que modo as análises dos especialistas contribuirão para a compreensão sobre artistas, obras e períodos históricos?
JC: De diversos modos, segundo os métodos, os enfoques, as sensibilidades de cada um dos autores. Primeiramente, as análises trazem à tona novos documentos e dados negligenciados ou desconhecidos. A pesquisa dos especialistas resultará na descoberta de correspondências, registros históricos, anotações de artistas ou outros materiais que lancem luz sobre o contexto de criação das obras. Esses novos elementos fornecem insights sobre a gênese e os modos de percepção das criações artísticas. Além disso, as análises enriquecem a compreensão dos períodos históricos em que as obras foram criadas. Isso pode levar à exploração de temas sociais, políticos, religiosos e culturais presentes nas obras, bem como a repercussões ou manifestações contemporâneas. A pluralidade de perspectivas também significa que as análises revelarão nuances e detalhes anteriormente descurados, desafiando suposições e estereótipos preexistentes. Cada autor trará à tona aspectos menos óbvios das obras, destacando características formais, simbolismos específicos ou interpretações não convencionais que expandam nossa compreensão e amplifiquem nossa experiência como espectadores. Surgirão, sem dúvida, novos documentos, novos dados e informações sobre as obras, mas cada um dos autores trará também seu modo de interpretar. As obras de arte suscitam modos diversos de compreendê-las; eles são complementares, desde que submetidos ao rigor do enfoque.

Os três primeiros títulos que serão lançados em setembro – “Más Notícias, de Rodolfo Amoedo”, “O Escolar, de Vincent van Gogh” e “Sem Título, de Amilcar de Castro” –, em São Paulo, tratam de obras de diferentes períodos históricos e executadas em diferentes suportes. Os outros títulos da coleção manterão essa alternância? Com qual objetivo?
JC: A diversidade presente nos três primeiros títulos que serão lançados em setembro, em São Paulo, é um reflexo da abordagem variada que preside a coleção Prismas. Essa pluralidade é um aspecto central e intencional da coleção, que busca explorar obras de diferentes períodos históricos e executadas em diversos suportes, abrindo espaço para uma gama de origens e manifestações artísticas. A decisão de juntar obras de diferentes períodos históricos é fundamental para criar uma experiência enriquecedora para os leitores. Ao explorar obras que abrangem séculos e épocas distintas, a coleção oferece uma visão sem preconceitos das diversas manifestações artísticas. Isso permite que os leitores percebam as variações relativas a técnicas, formas, temas, complexidades culturais, proporcionando uma compreensão mais profunda da história da arte. A escolha de obras executadas em diferentes suportes também desempenha um papel crucial na abordagem da coleção. Ao incluir pinturas, esculturas, fotografias e outros tipos de manifestações artísticas, a coleção Prismas amplia sua diversidade. Cada suporte traz consigo especificidades técnicas, artísticas e conceituais, potencializando a experiência do leitor. Essa característica da coleção é essencial para manter vivas sua diversidade e sua amplitude. O objetivo é garantir que a coleção continue a apresentar obras tratando de diversos períodos, meios culturais, artistas e suportes.

 

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