Ateísmo de Mário de Andrade é questionado em correspondência do escritor com crítico Alceu Amoroso Lima

Cartas entre autor de 'Macunaíma' e intelectual católico foram reunidas em livro

21/01/2019

Em O Globo

Por Leonardo Cazes

“Então eu solto um grande grito pra Deus me escutar. E como eu quero que Ele me escute, Ele me escuta”. A frase escrita por Mário de Andrade numa carta ao crítico e intelectual católico Alceu Amoroso Lima, em junho de 1943, surpreende ao revelar uma face pouco conhecida do escritor, a de um homem atormentado por não saber o que fazer com a própria fé. A discussão sobre a religião e “o problema de Deus” é o tema central da correspondência entre dois dos personagens mais importantes da literatura brasileira no século XX, que agora é publicada pela primeira vez no livro Correspondência: Mário de Andrade & Alceu Amoroso Lima (Edusp/Editora PUC-Rio), introdução, organização e notas de Leandro Garcia Rodrigues, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Rodrigues, que se debruçou sobre a correspondência durante sua pesquisa de pós-doutorado, em 2012, acredita que as cartas provam que Mário de Andrade nunca foi ateu, como costuma ser apontado por seus biógrafos, apesar de suas críticas ferozes à Igreja Católica. Em uma crônica publicada 15 anos após a morte do escritor paulista, e reproduzida nos anexos do livro, Alceu já apontava que o elemento religioso era central na vida de Mário, afirma o professor.

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Apesar da admiração mútua, principalmente após a Revolução de 1930, os dois estiveram em lados opostos no debate público no Brasil. Enquanto Mário flertava com o comunismo e sofria as retaliações do governo de Getúlio Vargas, Alceu Amoroso Lima seguiu a Igreja Católica e se alinhou ao presidente. Ele foi responsável por algumas das medidas mais radicais do Estado Novo no campo da educação e da cultura, como o fechamento da Universidade do Distrito Federal (UDF), em 1939. Neste período, o crítico também promoveu uma verdadeira cruzada evangelizadora entre os escritores brasileiros. Entre os principais convertidos por Alceu estão Murilo Mendes, Jorge de Lima e Augusto Frederico Schmidt.

Esses homens foram formados sob forte influência do positivismo, que era de um ateísmo militante. Depois que o Alceu se converteu, em 1928, ele começou a levar muita gente com ele. Alceu foi o exemplo de que se tornar católico não era impedimento para o exercício da crítica e do pensamento. Esse movimento vinha da França e teve um impacto sobre uma geração imensa – explica Rodrigues.

Contudo, o professor destaca que o diálogo de Alceu com Mário foi muito diferente daquele estabelecido com outros autores. O crítico reconhecia a formação católica do paulista, evitava o proselitismo e era compreensivo com suas reclamações contra a igreja, como fica claro na carta de resposta àquela citada no início da reportagem: “Sim, meu caro Mário, é sempre tempo de v. soltar ‘o grande grito’. A despeito de sua confessada ‘incompreensão’, a despeito de suas raivas pessoais, a despeito de tudo que sua carta revela contra nós e contra mim, particularmente, estou mais junto de você do que você pensa”.

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Leia o texto original na íntegra em O Globo

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